terça-feira, 9 de novembro de 2010

De todas as coisas


Você  também vê as pessoas? Você as sente? E machuca quando você percebe que elas não querem ser vistas? É por isso que você se esconde? Você me viu, quando eu não quis deixar você me ver? É isso? Eu machuquei você?

Não é a gente que precisa de conserto, mesmo não... fiquei procurando conserto a vida inteira e tudo o que eu consegui foi chegar ao ponto em que você está - eu vejo as pessoas, eu as sinto... e me machuca perceber que elas não querem ser vistas.

Sinto vontade de sair correndo, de me esconder, e elas só querem me trancar. Sinto medo até de me internarem num hospício - e eu sei que a loucura nao é minha. Sinto medo de as pessoas correrem de mim.

As pessoas não querem o próprio lixo e querem que nós, que assumimos nosso próprio lixo, mas também nosso próprio luxo, fiquemos com o lixo delas. Eu não quero o lixo de ninguém, eu só quero o meu próprio. Mas também não quero ficar sozinho, preciso de alguém que realmente queira me ver e que se deixe ver por mim também.

Então não deixe ninguém tentar "consertar" você mesmo, não! Não é arrogância, é a certeza de que você se conhece, e ama luxo e lixo, porque é tudo o que se pode ser.

Eu só preciso de uma pessoa que me ouça e entenda tudo isso... não. Na verdade, eu preciso de mais pessoas, preciso da minha família, preciso dos meus amigos, preciso de todos que toparem esse encontro. Você também sente que precisa de mais pessoas?

A gente é especial mesmo, e podemos ajudar as pessoas que passam por nós a descobrirem que são também especiais, porque são elas que, antes, nos descobrem assim.

Isso é o que eu chamo de silêncio por dentro, uma freqüente epifania. É justamente o que nos dispõe aos encontros, sempre tão intensos. O nosso silêncio por dentro é essa sensação de estar sempre flutuante, é o que nos permite ver os outros, e nos modificar, nos construir com eles. E eu preciso do seu silêncio pra me devolver ao meu. Talvez seja essa a nossa maior semelhança e o nosso maior vínculo daqui pra frente: preservar o silêncio um do outro.

Do meu silêncio eu finalmente consegui ouvir a minha familia, os meus amigos, as pessoas que eu amo. E eles me ajudaram a me encontrar e isso ajudou todo mundo a se encontrar junto. E eu consegui perceber o que eu não quero da vida, embora eu vá terminar o que comecei e continuar tirando os bons frutos que sempre colhi disso.

O que eu quero da vida são as pessoas. Eu quero ser das pessoas e quero ser de mim mesmo- e também quero que elas sejam minhas e, ao mesmo tempo, delas mesmas. E, sabendo dos meus porquês, sinto que tenho coragem pra isso. Sinto-me pronto.

Então desejo, do fundo do meu coração, que do seu silêncio, meu grande amigo, brotem coisas tão lindas quanto têm brotado do meu. Eu desejo, essencialmente, que do seu silêncio, agora, brote você.
-

Nenhum comentário:

Mais lidos

Blog Archive

Minha lista de blogs

Followers

-
De mim, sabe-se apenas que respiro
-

Recent Comments