quarta-feira, 8 de abril de 2009

A curva descendente da despensa *

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Tudo começa de maneira bastante ingênua. Você vê ao longe aquela etiqueta de preço com destaque na prateleira. Chega perto e observa a diferença: “puxa, esse aqui está em promoção!”. Nota a embalagem meio tosca – muitas vezes parecida com aquelas capas de trabalho de ciências que você fazia no ginásio. Depois de alguns segundos de hesitação, conclui: “ora essa, por que não?”. Assim começa a descoberta pelas marcas genéricas no supermercado. E esse processo, colegas, é um dos mais claros sintomas do desemprego.

Ok, algumas vezes você nem precisa estar desempregado para dar abrigo à ervilha Twist ou ao papel higiênico Coop em sua casa, porém, todavia, entretanto eu estou . De qualquer forma sou da seguinte opinião: tem coisas que não dá para comprar sem a marca. Não pelo logo estampado no produto, mas porque certos itens precisam ser mesmo muito bons.

Outros tem sempre o mesmo sabor ou efeito para mim. Ervilha, por exemplo. Por que pagar mais de um real na Jurema se a Twist custa 89 centavos? São só bolinhas verdes para a salada, a torta salgada ou o frango com curry, por Deus. Qualquer uma serve. São todas iguais. Aliás, quase não têm gosto sozinhas. Peraí. Ou será que penso isso porque sempre compro a mesma?

Bem, não importa. O fato é que dá para medir os meses de desemprego, preferencialmente dias ... de acordo com a mutação da despesa aqui em casa. Analisando um item a cada dia parti já comprando ervilha Twist e papel higiênico Coop, por princípio, no caixa eu desisti da ervilha.. farinha enche mais a pança que ervilha.. e sobre o papel, bem... se eu investir em um papel com perfume, suave coloração salmão e simpáticas florzinhas impressas não terei coragem, no fim, de dar ao produto o destino para o qual foi criado, na crise que eu tô é bem capaz de eu usar o dito cujo como caderno, design ótimo inclusive !

Lá para o terceiro ou quarto dia , a despensa passou a receber colegas bem mais inusitados. O açúcar Da Barra, que já havia substituído o União, deu lugar ao concorrente Caravelas – cujo pacote parece uma daquelas capas de trabalho de ginásio que eu citei no início, quiçá um resumo sobre o descobrimento da América. Tudo bem, adoça do mesmo jeito. Com umas duas a tres colheres a mais que o União, mas adoça.

No quinto dia , apelei para o Café no Bule. Não, eu não fui chorar minhas mazelas no Ratinho. Apenas tomei coragem de adquirir, em vez do tradicional Nescafé, Santa Clara ou Maratá , o... Café no Bule. Esse até fiz com um certo regozijo, porque eu acho mesmo muito engraçado servir Café no Bule para as visitas. Viu? Os trocadalhos são infinitos!

Entre o sexto e o sétimo dia , dei adeus a uma instituição familiar: o sabonete Líquido. Eita sabonetinho caro, viu? Mas aí descobri que o Lux Luxo não era mais aquele: agora, os produtos da linha têm perfumes do tipo “Frescor Irresistível”, “Vitalidade do Guaraná” e “Sedução do Chocolate”. Assim, ficou mais confortável (e engraçado) trocar o tradicional Odor de Rosas do líquido pelas sensacionais fragrâncias do Lux. É a “Sedução do Chocolate”, gente. Quem não quer?

Na semana seguinte , arrisquei alto. Troquei o sabão em pó Omo, essencial para mocinhos que moram sozinhos e que não estão a fim de engrossar os bíceps no tanque, pelo Tixan. De saquinho. Olha, o novo sabão não era ruim... Mas confesso que como Omo não tem igual. E que sabão em pó em saquinho é um transtorno. No fim, a abertura está toda melada, porque é o tipo de coisa que você manuseia quase sempre com as mãos molhadas.

Nem sempre as apostas em marcas “B” dão certo. É preciso ser um equilibrista para distribuir o orçamento por entre as marcas indispensáveis, boas, médias ou horrorosas, levando em conta na equação que tipo de produto pode ser marromeno, qual não pode ser comprado de jeito nenhum e qual você não dispensa, mesmo que tenha de economizar noutra área.

Depois dizem que dono-de-casa não faz nada... Só se for os de orçamento ilimitado. Porque os outros, se bobear, lavam, passam, cozinham, tomam Café no Bule e ainda fazem salgadinho e bolo para fora (medida que considerei tomar para voltar a comprar Omo).

Na semana seguinte, troquei a coca-cola (outra imbatível) pela Schin (médio), ao menos posso lembrar de Ivete (musa mor) porém compro só o de guaraná ou de limão, o tal do cola eh horroroso, o de laranja me deu dor de cabeça ; continuei com o Caravelas (sabe que não é ruim?), instituí o Lux Luxo, reprisei o Café no Bule (se você não faz questão de café superforte, pode confiar) e passei a mão na boa e velha caixinha de Omo. De meio quilo, para economizar. Adiei os salgadinhos e bolos para o mês que vem, e sonho ansiosamente pelo dia em que voltarei aqui e direi " Empregado"... enquanto isso vão rezando por mim aí... orar é bom e não custa caro, até por que eu "ainda" não estou cobrando o dízimo a vocês " Queridos visitantes " !

Algum interessado?

3 comentários:

Flavio disse...

Aahuahuahua
daqui usn dias vc vai começar a comprar bolachão.. hahahaha e só comer farofa .. êe misera !

Aline Cavalcanti disse...

Amigoooo
vou colaborar com a cesta básica viu?
tah fogoooooooo

Douglas [ Facult ] disse...

" Vim apenas tomar esse humilde café "

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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