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Acho que vasculhava no passado uma lembrança, um momento, algo para sentir saudade. Uma semente que tivesse plantado e esquecido, de uma árvore que não houvera cortado de minha vida. Uma centelha de esperança de algo que não tivesse esmorecido nas desilusões e nos vazios de desencontros. Procurava uma história que não houvesse terminado, uma promessa de algo que nunca se concretizou, portanto, nunca morreu. Queria um refúgio que soprasse a brisa de um sorriso em meus olhos descrentes. Queria reaver-me apaixonado mesmo que fosse num jardim secreto, me apropriando impunemente de um amor esquecido. Procurei a esquina que não dobrei, a palavra que não disse, o caminho mutilado pelas vias que se cruzam e nunca mais se encontram. Queria traçar linhas, mesmo imaginárias, que me ligassem a alguém. Alguém que não esqueci, mas de quem não me lembrava. Uma presença que eu pressentia, sem nunca admiti-la. Um olhar que me observava no silêncio, estranhamente familiar e sem dono. Foi então que vi teus olhos. Eram os teus olhos que me haviam seguido pelos anos de esquecimento. Você, que eu julgara esquecido, abandonado na impossibilidade, no efêmero encontro fugaz que se condenam àqueles a quem os destino já separou muito antes. Não houve história, apenas um encontro. Mas teus olhos ainda existiam, mesmo na lembrança esmorecida no limo de minhas alegrias esquecidas. E neste momento em que invoco de meu passado o que não seja estéril, é tua lembrança que surge. Devagar, se desenhando aos poucos. Me dando teu nome que pronuncio devagar, como quem saboreia um segredo, um mistério desvendado. Teu nome que o vento soprou para que pousasse suavemente em minha memória. Teu nome que guardo a tua revelia e que me traz lembranças de um amor arrancado na raiz, deixando a promessa de uma história. Uma história que não sei se existiu, mas , que invento nestas linhas apenas para sentir teu olhar sobre mim, mais uma vez. Simplesmente para sentir.